sexta-feira, 1 de maio de 2009

Jornal Correio do Ribatejo



O novo livro de Aurélio Lopes
“Videntes e Confidentes: Um estudo sobre as aparições de Fátima” 07-04-2009
“Videntes e Confidentes: Um estudo sobre as aparições de Fátima” é o novo livro do antropólogo Aurélio Lopes que será apresentado em Santarém, na Sala de Leitura Bernardo Santareno, dia 18, sábado, às 17 horas. “Fazer um estudo destes, sobre Fátima, surge como evolução natural de um percurso pessoal de investigação pautado pela abordagem da relação dos homens com a esfera do sagrado, nomeadamente no campo mais específico da religiosidade popular, nas suas manifestações colectivas e públicas; as festas cíclicas ou comunitárias, romarias, santuários, etc.,…” revela ao Correio do Ribatejo. A importância do fenómeno de Fátima no país, como em todo o mundo católico, torna o tema para o autor “particularmente sedutor e interessante”. “Diria mesmo que esta obra é, de alguma forma, fruto de uma evolução natural,” assegura. Apesar disso, Aurélio Lopes é de opinião que “a manipulação deste assunto carece de especiais cuidados,” não tanto “naquilo que se diz” (em grande parte decorrente de imperativos metodológicos) mas essencialmente “na forma como se diz!” Aurélio Lopes não esquece na sua obra que milhões de pessoas por todo o mundo têm Fátima como o grande referencial místico e taumatúrgico: “As suas crenças merecem, naturalmente, todo o respeito, como aliás, qualquer tipo de crenças religiosas ou não. Nem mais nem menos do que exigimos para nós: para as nossas convicções, opiniões e conclusões,” esclarece. São estes fenómenos que, segundo o autor, melhor explicação constituem, originalmente, “emanações e projecções” dos, assim chamados, videntes. “Projecções cujas particularidades motivacionais individuais e auto-consciências operativas, apenas uma equipa multidisciplinar (incluindo, entre outros, psicólogos clínicos e sociais) e munida de dados primevos menos modificados poderia, eventualmente, percepcionar”. É esta a convicção do autor, para quem as aparições “surgem normalmente em contextos sociais e políticos favoráveis e após períodos iniciais de avaliação poderão vir a ser aceites como autênticos.” relata. Livro com quatro partes A obra está dividida em quatro partes, precedidas de uma prévia reflexão acerca da problemática cadente da relação epistemológica entre ciência e religião. A primeira, “Mulheres e Deusas”, remete-nos para o papel histórico das divindades femininas, nomeadamente no mundo mediterrâneo, “vistas estas no contexto dicotómico e ambivalente que opõe e conjuga fertilidade e virgindade”. A segunda parte, “Aparições”, debruça-se, em particular, sobre a tipologia destes fenómenos tão característicos do cristianismo: “grosso modo, formas de relação directa (leia-se, sem intermediários eclesiásticos) com o sobrenatural”. A relação directa com “Fátima” surge na terceira parte; precisamente assim denominada. A última parte, “A Construção do Sagrado”, aborda, finalmente, os fenómenos primevos do ponto de vista mais claramente antropológico, bem como a sua evolução no tempo histórico e clerical. A forma como o texto está equacionado assenta em análises que partem sempre do princípio de que o fenómeno divino é naturalmente verdadeiro para quem o interpreta e, dele professa. Claro que existem fraudes em todo o, lado! Mas os sujeitos da acção religiosa (milagrosa ou não) são, naturalmente, crentes sinceros. Logo crêem naquilo que lhes sentem acontecer ou sentem acontecer aos outros. “Podemos dizer que o livro apresenta uma explicação sociocultural dos fenómenos enquanto antropologicamente considerados, em que os videntes não são apenas uma parte da interacção com o divino, mas são, dir-se-á, a própria interacção,” informa Aurélio Lopes que acescenta: “Não sendo fenómenos sustentáveis em termos científicos, as aparições expressam dimensões existenciais muito particulares que, nem por serem virtuais, são menos efectivas e envolventes.” Para o antropólogo, o objectivo “utópico” deste estudo (que como utópico que é dificilmente se concretizará em absoluto) é fornecer a muitos não crentes “uma sustentável tese socio-cultural alternativa” e, a muitos crentes, “um sustentável cenário histórico e cultural onde eclodem e se configuram os fenómenos taumatúrgicos em que acreditam.” Videntes são muitas vezes crianças O autor revela ainda que os videntes são muitas vezes crianças, jovens ou pessoas de formação cultural baixa, emotivos e impressionáveis, levando muitas vezes uma existência dura e boçal, quantas vezes sofrida, sem perspectivas de melhoria. “Para eles, o mundo é, ainda, palco de uma luta entre o bem e o mal. Luta em que o mal confere sentido ao bem, não obstante dever ser periodicamente vencido em sucessivos confrontos que antecipam o confronto final e onde cada um (é, suposto) ter um papel a desempenhar”. A aparição proporciona-lhe, assim, uma importante ruptura com o quotidiano. Uma importância que o resgata à banalidade prosaica da sua existência e confere, de alguma forma, uma razão de ser, ao seu sofrimento. Quanto a possíveis criticas, Aurélio Lopes é claro: “Não! Não me preocupam as eventuais críticas da Igreja. Pelo menos aquelas que decorrem, directa ou indirectamente, da intocabilidade da matéria. Preocupam-me, sim, eventuais críticas acerca da sustentabilidade das análises e das conclusões. Venham elas de onde vierem,” assegura. O livro “Videntes e Confidentes: Um estudo sobre as aparições de Fátima” será apresentado também em Tomar, no auditório da Biblioteca Municipal, dia 2 de Maio (igualmente sábado), às 16 horas. JPN


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