“Fui levado a escrever este livro depois de ter ouvido uns senhores dos bancos a dizerem que a culpa da crise é de todos, na verdade uns são mais culpados do que outros, e para isso tive de recuperar a palavra banksters, que resulta da mistura de banqueiros com gangsters”, afirmou José Manuel Rolo, autor do livro “Labirintos da Crise Financeira Mundial” (2007-2010), apresentado no sábado, no salão nobre do Governo Civil de Santarém, numa sessão que incluiu um debate com os deputados do PSD, PCP e Bloco de Esquerda e representantes do PS e do CDS/PP, com moderação do director do jornal O Ribatejo Joaquim Duarte.
Publicado pelas Edições Cosmos, de Joaquim Garrido, o livro “Labirintos da Crise Financeira Internacional” explica como, “em apenas dois anos, se passou de uma descuidada euforia a uma crise generalizada e profunda cuja solução não está à vista”.
Professor universitário do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, José Manuel Rolo disse que foi levado a escrever este livro quando ouviu “os senhores dos bancos dizerem numa reunião que somos todos culpados desta crise; este livro serve também para mostrar que uns são mais culpados do que outros, e para isso tive de recuperar a palavra “banksters”, inventada na Grande depressão de 1930, e que resulta da mistura de banqueiros com gangsters”.
José Manuel Rolo sublinha que “esta crise resultou do triunfo das ideias liberais na década de 80, nos EUA e Inglaterra, com a subida ao poder de Reagan e de Tatcher, que conduziu à desregulamentação dos mercados”.
Sobre a situação de Portugal, o professor considera que “algo não está bem quando dos últimos quatro primeiros-ministros, dois saltaram lá para fora e os outros dois eram comentadores da televisão…” Critica os “antigos ministros e responsáveis políticos, que acumulam ordenados e duas ou três reformas, agora transformados em artistas de variedades como comentadores da televisão, e que ainda pedem a vinda do FMI”. Sublinha que “o apoio do FMI à Grécia foi no montante da dívida aos bancos alemães e franceses e isso diz tudo sobre o papel do FMI”. Em Portugal, desta vez, “o FMI só vai deixar maior pobreza e mais recessão; como não pode desvalorizar a moeda vai-se atirar aos suspeitos do costume, isto é, aos funcionários públicos, aos trabalhadores por conta de outrem, aos pensionistas e outros que não se podem defender, a não ser fazer umas manifestações”.
O autor considera que “esta crise, que não dá sinais de querer abrandar, além dos incalculáveis prejuízos que provocou por esse mundo fora, teve três consequências fundamentais: decretou, espera-se, a falência do capitalismo financeiro liberal e desregulado de raiz anglo-saxónica com sede em Wall Street e na City de Londres, e ramificações nas restantes principais praças financeiras mundiais; confirmou ou fez emergir outros modelos de organização da vida económica, todos de raiz capitalista, que se perfilam como alternativas à economia de casino e que vão desde o modelo liberal regulamentado aos modelos nórdicos, à economia social de mercado alemã e ao modelo chinês de capitalismo de Estado com larga participação da iniciativa privada; e provocou o primeiro grande abalo da supremacia do Ocidente e da hegemonia dos EUA no mundo em favor da China e de mais dois ou três países emergentes”.
No debate que se seguiu à apresentação, Tiago Leite, do CDS/PP de Santarém, recordou que “dantes o meu banco só me emprestava dinheiro para a casa se eu tivesse 20% do valor, depois veio a desregulação, as pessoas endividaram-se para o que precisavam e o que não precisavam e isso foi o princípio do fim”.
O deputado António Filipe, do PCP, afirmou a sua perplexidade sobre como é que esta crise foi possível e como é que se aceita esta situação de termos o poder político submetido ao poder económico e mediático, o pensamento único a dominar os meios de comunicação, esquecendo que foi o dinheiro dos contribuintes que salvou os bancos e são ainda os contribuintes que vão pagar os impostos e o resto por causa de uma crise de que não tiveram culpa”. António Filipe considera que “esta não é a primeira e não será a última crise do capitalismo, mas é a prova do falhanço do capitalismo que não é a solução para os problemas da humanidade”.
“Ouvimos todos os dias que os trabalhadores que recebem o ordenado mínimo e os beneficiários do rendimento mínimo andam a gastar à tripa forra e, por isso, é que estamos em crise”, ironizou o deputado José Gusmão, do Bloco de Esquerda. “A necessidade de regulamentação dos mercados financeiros é consensual, só não se percebe porque não se tomam medidas de controlo dos movimentos financeiros, de proibição da transformação das dívidas em títulos, e por aí além”, defendeu José Gusmão, citando uma frase do livro atribuída ao filósofo Montaigne: “entre o fraco e forte, a liberdade oprime e a lei liberta”.
Nélson Carvalho, do PS, defendeu que a solução para a crise deverá passar por um reforço da integração na União Europeia.
O deputado Vasco Cunha, do PSD, referiu que “esta crise coloca em causa o modelo social e de desenvolvimento do ocidente e, ironicamente, são antigos países do bloco comunista que estão a fazer o seu caminho, imunes à crise, com taxas de crescimento económico altas”.
in Jornal O RIBATEJO
domingo, 7 de novembro de 2010
Prémio Bernardo Santareno - Não deixes que a noite se apague
O Júri decidiu atribuir o Prémio Nacional de Teatro Bernardo Santareno 2009 à peça de teatro "Não deixes que a noite se apague" de Domingos Lobo, considerando a invulgar qualidade literária do texto aliada à viabilidade da sua concretização cénica.
Uma história que decorre entre Janeiro e Maio de 1962, tendo como pano de fundo a crise académica e as greves dos trabalhadores agrícolas do Alentejo e do Ribatejo, pela jornada de oito horas. Pelo meio, conturbadas relações amorosas.
É um texto que diz muito de nós, dos sonhos e das nossas vidas.
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