quarta-feira, 8 de abril de 2009

Videntes e Confidentes - Aurélio Lopes




...Em vários países, sobretudo a partir dos finais do século XIX, surgiu a necessidade de pensar a religião e as religiões sob o ponto de vista científico. Assim nasceram as ciências da religião, das religiões e, por fim, a ciência das religiões. Em Portugal, com a ideia de que a religião tinha os dias contados e poucos, não se sentiu necessidade de percorrer os caminhos que várias instituições e universidades estrangeiras seguiram, no campo da investigação do fenómeno religioso. Entretanto, a Universidade Lusófona, em 1998, criou uma área de Ciência das Religiões. Hoje, esta área tem uma Licenciatura, um Mestrado, um Centro de Investigação e publica a Revista Lusófona de Ciência das Religiões, onde lançou o grande debate sobre o ensino religioso na escola.
Durante muito tempo, tentava-se explicar a religião e as religiões pela redução ao não-religioso. Este caminho revelou-se inadequado. Era preciso reconhecer a originalidade e a autonomia relativa do fenómeno religioso nas suas manifestações plurais ao longo da História. Sob este ponto de vista, identifico-me bastante com as posições de Giovanni Filoramo e Carlo Prandi, As ciências das religiões (Paulus, São Paulo, 1999).

4. Por tudo isso, quero destacar a obra de Aurélio Lopes, Videntes e Confidentes. Um estudo sobre as aparições de Fátima. Depois de um período de visão crítica das chamadas revelações que não pertencem ao cânone católico, no âmbito das quais se situa o fenómeno de Fátima, tentei esboçar outro caminho: que revelava Fátima da nossa especial arte de ser católico português? Era um caminho de antropologia simbólica que não tive tempo para aprofundar. Irritava-me tanto a apologia oficial e oficiosa das aparições como as publicações que faziam daquele fenómeno religioso uma “invenção dos padres”. O mais importante não era atendido. E o mais importante seria a resposta à seguinte pergunta: como compreender, como interpretar, o que aconteceu e se desenvolveu em Fátima desde 1917 até hoje?
Aurélio Lopes, conhecendo a importância e os limites das ciências humanas, tentou responder a essa pergunta. Não é a perspectiva de um crente nem de um descrente. É a perspectiva de quem procura estudar, com isenção, um fenómeno mais complexo do que a ignorância e a crendice podem supor. Espero que suscite um amplo debate. A importância que Fátima reveste, sob vários pontos de vista, exige-o e esta obra merece-o.


Frei Bento Domingues, o.p.